Reiki e Psicologia Positiva são duas áreas com muitas
afinidades. Em entrevista ao Reiki em Portugal, Rita Ferreira fala-nos
sobre esta ligação e de como está a construir a sua dissertação de
mestrado em Psicologia Comunitária, levando o Reiki a doentes
oncológicos.
És licenciada em Ciências Psicológicas e estás a fazer um mestrado em Psicologia Comunitária. Que tipo de ligação é possível estabelecer entre o cultivo de uma mente positiva e a intervenção comunitária?
Apesar de existir uma área na Psicologia denominada “Psicologia
Positiva”, qualquer disciplina em Psicologia na sua essência deveria ser
sempre positiva, no sentido em que é uma ciência que procura promover o
bem – estar, as capacidades e mecanismos cognitivos, de adaptação,
competências emocionais e o desenvolvimento de cada pessoa. Deste modo, a
minha escolha pela Psicologia Comunitária partiu dessa ligação
fortemente íntima que eu vi ser possível de estabelecer entre a
intervenção por esta feita e o culto de uma mente positiva. Esta
ligação justifica-se porque a Psicologia Positiva estuda os aspectos
positivos da vida humana, focando-se nas forças e virtudes de carácter
intrínsecos de cada um. Por seu turno, a intervenção comunitária também o
faz, sendo o trabalho social realizado junto das populações em diversos
contextos ambientais, tendo como fim a resolução de problemas e a
promoção das potencialidades (empowerment) de uma comunidade através de
acções concertadas entre vários agentes e a própria comunidade local.
Isto tudo com o objectivo de procurar melhores condições de vida, sejam
elas quais forem, a fim de provocar mudança social. Portanto, são duas
áreas que procuram responder igualmente às necessidades das pessoas,
auxiliando recursos disponíveis pessoais e colectivos, que favorecem os
indivíduos e comunidades a prosperar. Num certo sentido, focam-se mais
na índole positiva das pessoas, despertam a consciência crítica das
mesmas, fazendo com que estas se tornem mais proactivas e menos passivas
na resolução dos seus problemas. Até porque temos muito mais potencial
do que aquilo que a sociedade nos permite ou deixa realizar.
E quanto à prática do Reiki, de que forma preconizas a sua aplicação no âmbito da Psicologia Comunitária?
- Antes de mais, é importante compreender que a Psicologia
Comunitária baseia a sua prática em cinco princípios de base ecológica
(Kelly, 1996 & Levine, 1969). Em dois deles reconhece que um
problema surge num contexto ou numa situação, sendo que os esforços de
diagnóstico não deverão focar-se apenas na descrição das características
dos indivíduos envolvidos, mas também na compreensão das
características do contexto da situação – problema. Precisamos de
descobrir onde falha o ajustamento entre as pessoas e os contextos.
Existe mesmo uma relação de interdependência, o que implica que as
pessoas e os contextos funcionam como parte do mesmo sistema integrado,
pelo que a resolução de um problema requer adaptação. A eficácia do
suporte, que é outro dos princípios, implica que este se localize
estrategicamente no epicentro do problema.
A intervenção que fiz ao longo do estágio foi maioritariamente na crise,
em pacientes oncológicos, integrada numa perspectiva comunitária. Estas
situações de crise surgem em resultado de dificuldades de resposta às
circunstâncias. Eu apenas vi a aplicação de Reiki como um dos muitos
recursos potencialmente disponíveis. Preconizo esta técnica energética
como objecto de estudo na minha tese de mestrado e vejo-a como um
recurso cada vez mais promissor. Procuro assim estudar se o Reiki tem
impactos benéficos no empowerment (auto – poder; autonomia; auto – cura)
nos pacientes com cancro, especificamente. E para mim, neste momento, o
grande desafio é estabelecer a relação das terapias
alternativas/complementares com a Psicologia no geral. Procuro novos
paradigmas e novas formas de intervenção sempre para o mesmo objectivo:
promover a mudança social e o recovery pessoal.
Qual tem sido a receptividade ao teu estudo por parte do Hospital de Curry Cabral (onde estás a realizar a investigação) e também por parte dos profissionais de saúde e doentes?
A investigação ainda se encontra numa fase muito preliminar. De tal
forma que ainda não deu para constatar a receptividade ao tema por parte
dos profissionais de saúde, instituição e os próprios pacientes, que
irão fazer parte da minha amostra. A recolha da amostra, não irá
constituir-se apenas no Hospital de Curry Cabral, mas também gostaria de
alargar o espectro e retirar a amostra no Hospital de S. João, no
Porto, e talvez nalguns centros de saúde holísticos em Lisboa, que
apliquem Reiki. Os resultados produtivos dependerão exactamente da
receptividade e abertura ao tema por parte das instituições, dos
pacientes e até dos próprios familiares destes.
E a nível académico, como tem corrido o projecto de dissertação em termos de receptividade por parte dos professores e colegas? Notas maior abertura em relação a estes temas que antes não eram frequentes no meio universitário?
Felizmente tem havido receptividade por parte dos professores de
mestrado e principalmente dos colegas da minha faculdade. No entanto, o
desafio é enorme, pois a publicação em revistas científicas ainda não é
suficiente, mas vamos caminhando a pouco e pouco. Além disso, o velho
paradigma das academias universitárias sobrepõe-se à visão milenar
herdada do Oriente, por exemplo, falar de energia Reiki numa comunidade
científica gera alguma controvérsia. Explicar ou até mensurar isso à luz
da ciência é um desafio constante, mas com evidências cada vez mais
comprovadas.
Sinto que a filosofia zen no geral, e as terapias orientais
especificamente, têm gerado alguma curiosidade e controvérsia nas
pessoas. Essa realidade advém da informação que nos é colocada na
televisão, nas redes sociais e nos livros, sobretudo os de auto – ajuda.
Dada a situação de crise financeira actual, as pessoas tendem a comprar
e a adquirir cada vez mais esse tipo de livros. As pessoas procuram
nestes livros, uma resposta para as várias necessidades pessoais, porque
descrevem os nossos anseios pessoais e espirituais, aos quais a
sociedade secular já não consegue responder.
Participaste num programa televisivo sobre pensamento positivo e referiste que “ser feliz é um processo que se constrói ao longo da vida”. Queres explicar melhor este conceito?
Durante toda a nossa vida, a felicidade que gera emoções prazerosas
não é um sentimento constante e estagnado. Vai-se construindo através
das nossas experiências de vida. Penso que ela até poderia ser constante
se o Homem e as suas circunstâncias não fossem tão mutáveis. Acima de
tudo, cabe ao Homem escolher o caminho da felicidade, cultivando-a
diariamente, e isso é possível de se atingir através da prática do bem e
de um profundo caminho do auto – conhecimento.
É, então, possível educar para a positividade? De que forma é que os pais e professores podem contribuir para que as crianças de hoje sejam adultos mais positivos?
Penso que sim, é possível educar para a positividade. A proposta é
ensinar às crianças em casa e nas escolas, desde muito cedo, o princípio
básico do respeito e do amor ao próximo. Amar o outro como ela se ama a
si mesma, não o julgando nem criticando, pois isso tem retorno.
Primeiro, ter em mente este principio, de forma que tudo o resto venha
nesse sentido. Ensinar-lhes o princípio de que o nosso pensamento cria
realidades, e a forma como percepcionam o mundo passa pela qualidade dos
nossos pensamentos e têm uma repercussão directa na forma como agimos
em sociedade e connosco próprios.
Ensiná-las a ver o lado bom e positivo da vida, isto é, a perceberem que
perante os desafios e obstáculos que a vida lhes impõe à frente, há
sempre uma forma de oportunidade e de transformação. Ensinar-lhes a
importância de se cultivarem diariamente, através da cultura e dos
livros. Ensinar-lhes o poder da gratidão ao Universo pelos
acontecimentos da vida, valorizando as bênçãos que recebemos
diariamente. Normalmente não nos lembramos de agradecer, e reclamamos
com frequência, esta é uma forma de adoptarmos uma atitude positiva e
que pode contribuir para que as crianças de hoje sejam adultos mais
positivos.
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Rita Ferreira licenciou-se em Ciências Psicológicas e está a fazer um
Mestrado em Psicologia Comunitária apoiando-se no Reiki como terapia
complementar susceptível de ajudar na recuperação de doentes
oncológicos.
Neste link está disponível o programa “Bem-Vindos” da RTP África onde foi convidada a falar sobre Pensamento Positivo:
Fonte do artigo:
http://www.associacaoportuguesadereiki.com/reiki/reiki-em-portugal/2013/05/20/reiki-e-psicologia-positiva/
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